30/04/09

Recitais de Poesia com Afonso Dias

"A Poesia está na escola .... e em toda a parte"


No dia 6 de Maio a biblioteca da nossa escola foi palco de magia poética pela voz do escritor Afonso Dias. Pronunciar a palavra poesia dentro da sala de aula é erguer um muro de incompreensão e desalento nos discentes que raramente conseguem levantar o véu da beleza de uma mensagem poética. Estes eventos abrem caminhos de magia e sonho que despertam nas mentes adormecidas dos nossos jovens capacidades criativas que muitos desconheciam possuir. “Ouvir” poesia conduz ao sentir das palavras, ao voar das emoções e ao desbravar da imaginação.
Afonso Dias tentou levar o público “a andar de cabeça na lua” e a ver as coisas de um ponto mais alto do que o da realidade porque “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...”. Procurou inquietar os nossos alunos utilizando, entre outras, a ferramenta da música.
Deixamos aqui um dos poemas declamados pelo escritor.

Romance ingénuo de duas linhas paralelas

Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passando entre estrelas
Fazendo o que estava escito:
Caminhando eternamente de infinito a infinito

Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar
Falar e tomar café

Mas farta de andar sozinha
Uma delas certo dia
Voltou-se para a outra linha
Sorriu-lhe e disse-lhe assim:
"Deixa lá a geometria
E anda aqui para ao pé de mim...!

Diz a outra: "Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar
Temos de ir devagarinho
Andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!"

Não se dando por achada
Fica na sua a primeira
E sorrindo amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha matreira
Puxa para si o infinito.

E com ele ali à frente
As duas a murmurar
Olharam-se docemente
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar
Seguiram as duas juntas.

Assim nestas poucas linhas
Fica uma estória banal
Com linhas e entrelinhas
E uma moral convergente:
O infinito afinal
Fica aqui ao pé da gente.

José Fanha, Eu sou Português Aqui

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